O ano tão esperado chegou. Queremos esquecer o ano passado, que foi marcado por uma mudança radical no estilo de vida até então vivido pelas pessoas. Hábitos foram mudados, trajetórias foram interrompidas, lágrimas foram jorradas, comércios foram fechados, eventos cancelados, escolas virtualizadas. O mundo se viu, pela primeira vez, escravo das lives, das virtualidades também dos sentimentos e dos afetos. Foi, de fato, um ano poucas vezes imaginado até mesmo pela literatura de ficção.
Foi um ano que aumentou a fé das pessoas na sobrenaturalidade da existência humana. As experiências da quase-morte nos levaram a imaginar que o apocalipse chegaria para cada um de nós. As distâncias impostas pela pandemia criaram laços de solidariedade amarrados por algo tão pouco valorizado no nosso dia a dia: a arte. Isso foi importante para ressignificarmos alguns de nossos esquecimentos, especialmente ao que podemos considerar o sentido de nossa existência, num mundo que nos pede consumo constante e permanente de bens materiais e a ideia de que somos completamente dependentes da natureza e da nossa natureza humana, que se manifesta através dos elementos simbólicos que moram dentro de nós.
Se isso tudo é verdade, o é também o fato de que nos movemos sobre uma areia movediça. A pandemia revelou nossa fragilidade humana; revelou nosso egoísmo; revelou nossa parcialidade intelectual, movida por ideias equivocadas sobre o bem viver e o viver bem. Expôs a nossa parca capacidade de nos unirmos em torno da vitória sobre um inimigo invisível que não costuma escolher suas vítimas. Ou seja, escancarou nossa realidade imediata que ora revela, ora oculta o que há de melhor em cada um de nós.
Seja, portanto, bem vindo, 2021. Este ano será igual ao anterior? Certamente que sim. Não haverá um novo-normal porque o normal só será novo se ele for capaz de mudar para algo melhor do que ser normal. Será mais um ano de desilusões, creio. O que se inscreve no horizonte não é muito animador, caso o normal se instale em nosso cotidiano.
Para fazermos o enfrentamento da crise, é urgente não naturalizar a dor, o sofrimento e a morte. Precisamos fazer acordar dentro de nós o que pode nos tornar mais humanos: a solidariedade. Ou seja, temos que nos abrir para aprender a sentir a dor dos outros e a não permitir que discursos de ódio anulem nossa capacidade de avaliar alternativas reais para que o mundo – o nosso mundo particular e o geral – seja um lugar acolhedor para todos os seres, humanos ou não.
Desejo, de todo meu coração, que 2021 nos abrace, nos enlace, nos embale, nos envolva e devolva ao nosso ser brasileiro o espírito de pertencimento que nos torna mulheres e homens comprometidos com a mudança, a transformação e a solidariedade. Seja, portanto, bem vindo, 2021!
Daniel Munduruku é graduado em filosofia e doutor em Educação pela USP(Universidade de São Paulo).
Autor de premiados livros para crianças e jovens, reconhecido nacional e internacionalmente, comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República. Reside em Lorena desde 1987; é casado com a professora Tania Mara, com quem tem três filhos.
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