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COLUNISTAS / Mundurukando

Será que Lorena vem?

12/05/2015

Começa amanhã o Ecohvale – 1o Encontro de Contadores de Histórias do Vale do Paraíba. É uma iniciativa do Instituto Uk’a, organização com sede em Lorena e que objetiva a difusão da leitura literária entre os lorenenses.
É um evento que reunirá profissionais que desenvolvem a arte de contar histórias. Virão de muitos lugares para compartilhar seus pensamentos, suas práticas e suas trajetórias. São quinze convidados. Vêm do Pará, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. São contadores, artistas, músicos, poetas e escritores. Trazem na bagagem a alegria de quem faz um trabalho para o bem do país.
Entre os que se inscreveram para participar do evento estão pessoas também oriundas de muitos lugares. Surpreendentemente, há gente que vem de longe para ouvir os convidados. São cerca de cem inscrições. Uma boa parte vem do interior de São Paulo, mas tem os virão de Pernambuco, Paraíba, Acre, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Estas pessoas estão ansiosas para encontrar os convidados e com eles conviver e aprender. Será, certamente, uma festa.
Perguntado por que organizar um evento como este numa cidade como Lorena, por um jornalista, respondi simplesmente: amo esta cidade. Foi ela quem me formou para o mundo e sinto que devo a ela uma retribuição após todo o caminho que já fiz. O repórter, enfim, perguntou: será que Lorena vem?
A pergunta me deixou um pouco sem saber o que responder. A primeira coisa que me passou pela cabeça é que não faço isso esperando público numeroso, mas qualidade dos poucos que participam. Deixei escapar: acho que vem!
O fato é que a pergunta me pegou de calças curtas, como se diz. Realmente não há nada que possa garantir que a cidade está realmente interessada num evento de contadores de histórias. Não há uma cultura local de participação em eventos que formem público. Quando muito, o povo vai aonde há povo. Ou seja, em eventos em que há músicos populares, comidas, bebidas e outros atrativos. É uma realidade das pequenas e grandes cidades. O circo é melhor que a escola. A farra é melhor que o teatro. A festa é melhor que a leitura. É uma constatação triste, mas verdadeira.
Quando pensei em realizar o Ecohvale, tinha em mente proporcionar algo a mais além do trivial. Queria oferecer qualidade. Queria mostrar para minha cidade querida que há mais coisas a aprender e que o aprendizado é que nos leva além do que desejamos. Enfim, é um sonho que é partilhado por muita gente e uma pequena parcela dessas gentes está vindo para cá. Isso me alegra e me dá esperanças. Para mim isso basta. É o alimento para meu espírito.
O fato é que há muito poucas inscrições de pessoas da cidade de Lorena. Guaratinguetá inscreveu um pouco mais que aqui e olha que não foram muitas também. É verdade que há cerca de duzentos professores da rede municipal que participarão das oficinas. É um número considerável, mas há de se registrar que eles estão vindo por força do apoio que a prefeitura está oferecendo ao evento. Ainda assim esperamos poder influenciar essa turma a utilizar a arte de contar histórias como um recurso didático-pedagógico.
O evento, no entanto, não é feito apenas de oficinas. Há toda uma programação que acontecerá nos quatro dias. Os profissionais convidados farão lindas palestras para quem se inscreveu para participar. Haverá a música de Bia Bedran (quem não a conhece?); a poesia cantada de Socorro Lira (uma extraordinária cantora e compositora); o encantamento de Regina Machado (a madrinha dos contadores de histórias); a palavra poética de Francisco Gregório, Antonio Juraci, Tiago Hakiy; o imaginário da floresta de Cristino Wapichana e Edson Krenak; a caçada ao Saci, de Margareth Marinho, entre outras tantas atrações.
Para atingir o público da cidade teremos eventos abertos em três pontos da cidade: na praça da matriz, dia 13; no parque municipal Águas do Barão, dia 15 (caçada ao saci, a partir das 18 horas) e uma Maratona de contação de histórias, na praça Principal, no dia 16, a partir das 8h30. Não é, portanto, um evento fechado e para intelectuais. É algo para que nosso povo possa participar, pois a arte de contar histórias é a mais antiga das práticas humanas. Desde os primórdios dos tempos a palavra é usada como instrumento de encantamento. Dizem as sagradas escrituras que foi pelo som da palavra que Deus criou o mundo e o próprio Filho de Deus é chamado de Verbo…e o Verbo se fez carne. Nossa vida é, assim, movida pelo som mágico das palavras. E é este som que queremos fazer ressoar pela cidade e pelo vale do Paraíba. 
Será que Lorena vem? Não sei. Tenho esperanças que sim. Se não vier quem perde é ela. Eu estarei lá. Minha família estará lá. Meus amigos estarão lá. Quem precisa de mais?
Por último, quero falar da Audiência pública que realizaremos no dia 13, amanhã, na Câmara Municipal. Será a partir das 19 horas. Outra grande oportunidade de discutirmos os rumos da leitura, do livro, da literatura e da biblioteca em nosso município. É a abertura de um debate que deve avançar no restante do ano para elaborarmos o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca. Convidamos toda a população de Lorena para estar presente. Convidamos as universidades, as instituições locais, as bibliotecas, as secretarias ligadas ao tema, os vereadores e a prefeitura. Será que virão? Estamos apostando que sim.
E você que me lê agora, virá?

COLUNISTAS / Daniel Munduruku

Daniel Munduruku é graduado em filosofia e doutor em Educação pela USP(Universidade de São Paulo).

Autor de premiados livros para crianças e jovens, reconhecido nacional e internacionalmente, comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República.  Reside em Lorena desde 1987; é casado com a professora Tania Mara, com quem tem três filhos.


dmunduruku@uol.com.br

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