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COLUNISTAS / Café sem censura

Diante de um sistema educacional precário, um brasileiro se destaca e é indicado ao prêmio considerado o Nobel da Educação

18/02/2016

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O professor Marcio com a esposa Roza Barros, a aluna orientada que ficou em 3º lugar no prêmio Jovem Cientista, Bianca Valeguzki de Oliveira, e sua mãe Edna Valeguzki.

Quando se pergunta à população brasileira, em uma pesquisa de opinião, qual seria o problema fundamental do Brasil, uma grande parcela indica a precariedade da educação. Os entrevistados costumam apontar que o sistema educacional brasileiro não é capaz de preparar os jovens para a compreensão de textos simples, elaboração de cálculos aritméticos de operações básicas, conhecimento elementar de física e química, e outros fornecidos pelas escolas fundamentais.

E essa preocupação se torna evidente e comprovada pela análise sobre qualidade da educação de jovens publicada no 10 de fevereiro, pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris. O relatório, intitulado “Alunos de baixo desempenho: por que ficam para trás e como ajudá-los?”, baseia-se em dados de 2012 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da própria organização.

Dos 64 países analisados, o Brasil ficou atrás apenas da Indonésia, que tem 1,7 milhão de estudantes com baixo desempenho. Em termos percentuais, o País é o décimo pior avaliado, atrás de Catar, Peru, Albânia, Argentina, Jordânia, Indonésia, Colômbia, Uruguai e Tunísia. No ranking, o País fica em 58º lugar, somando 391 pontos na escala do PISA, contra uma média de 494 pontos obtidos por estudantes que vivem em países-membros da OCDE, entidade composta por 34 nações.

Inúmeras são as causas apontadas por especialistas que levaram a esses resultados, que vão desde a qualidade do ensino (e esta questão é a primordial), até a desestrutura familiar, muito mais decorrente de fatores socioeconômicos. Professores sem condições de trabalho, com salas lotadas, prédios mal conservados, falta de material pedagógico, bibliotecas, baixos salários e medidas como a progressão continuada (fim da repetência) também são apontadas como fatores que influenciam a baixa qualidade do sistema de educação.

Para que haja uma mudança neste quadro, é preciso que a sociedade como um todo esteja convencida que todos precisam contribuir para tanto, inclusive elegendo representantes que partilhem desta convicção e não estejam pensando somente nos seus benefícios pessoais.

A cada ano eleitoral, o tema educação entra em voga em nosso país. Candidatos a diferentes cargos públicos repetem as mesmas propostas paliativas acreditando serem essas as únicas soluções para o problema educacional no Brasil. Com certeza, nosso sistema educacional necessita muito mais do que apenas as propostas de construção de novas escolas ou do aumento insignificante do salário dos professores. O ensino brasileiro apresenta outras mazelas de ordem cultural, como o baixo incentivo à leitura e da falta de uma metodologia pedagógica que faça com que o conhecimento tome um lugar de destaque na mente da criança e adolescente, já tão ocupada por inutilidades.

Mas diante desse cenário preocupante, ainda é possível encontrar excelentes iniciativas voltadas a colaborar com a melhoria da qualidade do ensino no país. Um grande exemplo é o prof. M. Sc. Márcio de Andrade Batista, o único brasileiro entre os 50 finalistas do Global TeacherPrize, considerado o Prêmio Nobel da Educação, entregue a “um professor excepcional que tenha feito uma contribuição extraordinária para a profissão”.

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O prêmio

O Global TeacherPrize foi criado em 2014 pela Varkey Foundation, com o intuito de elevar o status da profissão do educador. “Buscamos celebrar os melhores professores, aqueles que inspiram seus alunos e a comunidade ao seu redor. A Fundação acredita que uma educação vibrante desperta e dá suporte a todo o potencial dos jovens. O status dos professores em nossas culturas é fundamental para nosso futuro global”.

Nesta edição de 2016, foram inscritos milhares de candidatos de 148 países. É a primeira vez em 3 anos de concurso que um representante brasileiro é selecionado para a lista dos 50 finalistas, onde 29 nações estão representadas. O vencedor do prêmio, que ganhara US$ 1 milhão, será anunciado em março, em Dubai.

Nascido em Marília-SP, Márcio de Andrade Batista formou-se em Engenharia Química pela Escola de Engenharia de Lorena (USP) em 2003 e possui Mestrado em Engenharia Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atualmente, é professor e doutorando na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus do Araguaia, unidade de Barra do Garças-MT, e também trabalha voluntariamente com alunos do Ensino Médio no interior do Estado.

Premio Novelis

Incentivando a pesquisa no Ensino Médio

Batista começou a dar aulas de ciência e sustentabilidade em 2010, depois de perceber que escolas rurais de Mato Grosso tinham dificuldades em obter material de ensino e tecnológico. Em colaboração com a UFMT e o Senai, o professor desenvolveu um programa de iniciação científica em estabelecimentos de ensino. Uma de suas principais preocupações é que, em locais remotos do Brasil, os estudantes têm enorme dificuldade em obter acesso à pesquisa científica. Além de promover a iniciação científica, o professor estimula o estudo e uso de produtos típicos do Cerrado em seus trabalhos com os jovens estudantes.

A ideia surgiu durante uma visita à Juína, município que fica mais perto da Bolívia que das principais cidades brasileiras. Andrade viu na atividade extrativista do baru, um tipo de castanha comestível, uma chance de trabalhar a percepção de alunos de escolas locais. “Basicamente, você pode comprar essa castanha por uma mixaria. Mas ela também oferece um potencial para se transformada em outros produtos. O que bastava era dar às crianças condições de imaginar isso”, explica.

Dessa forma, seu objetivo passou a ser orientar projetos sugeridos pelos próprios estudantes. A ideia é que os alunos desenvolvam interesse pela ciência desde o ensino básico. “Sempre tive como meta mostrar que ser cientista é tão legal quanto ser jogador de futebol ou outra profissão que os alunos admiram. Queria inserir a ciência dentro do rol de interesses dos alunos”, diz o professor.

A metodologia baseada na aplicação das ciências à vida cotidiana dos estudantes já rende bons frutos: a estudante Bianca Valeguzki ficou em 3º lugar na edição de 2012 do Prêmio Jovem Cientista, com o projeto “Elaboração de farinhas integrais enriquecidas com fruto do Cerrado (baru), visando atender às necessidades nutricionais de atletas de alto desempenho”. Segundo a jovem estudante, orientada pelo professor Márcio Batista, o objetivo de seu trabalho foi resolver simultaneamente dois problemas: identificar um fruto típico da região para atender às necessidades nutricionais de atletas de alto desempenho e complementar a alimentação infantil de atletas mirins com o uso, por exemplo, de barrinhas de frutas e farinhas integrais.

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“Em outra escola, desenvolvemos um projeto em que estudantes passaram a fazer pães e sorvetes com o soro do queijo produzido por pequenos produtores. Isso pode até ser usado na merenda escolar. Novamente, incentivamos os alunos a usarem a ciência em sua realidade. Eles são pequenos diamantes que só precisam de uma pequena polida. É muito melhor que apenas tentarmos ensinar ciência tradicional na sala de aula. E estamos descobrindo maneiras de melhorar suas vidas”, diz o professor Batista.

Márcio já tem troféus em sua estante e, recentemente, ganhou também o Prêmio Novelis de Sustentabilidade, desenvolvendo um tipo de carregador de baterias de celular movido a energia solar e que pode ser acoplado a bicicletas. Mas independente do resultado do Global TeacherPrize anunciado em março, a participação do professor Batista, em uma competição de tamanha repercussão internacional, ressalta a importância dos docentes, não apenas na formação, mas também no trabalho de incentivo aos alunos. Essa perspectiva que ultrapassa padrões educacionais não visa apenas resultados imediatos, mas também a longo prazo, uma vez que alunos interessados formarão uma nação mais capacitada e igualitária.

Esse artigo foi uma compilação de uma série de matérias e entrevistas publicadas em alguns portais de notícias, e com muito orgulho, deixo registrado meus parabéns ao amigo de faculdade, Márcio, por suas importantes colaborações para a ciência e desenvolvimento da sociedade brasileira e por nos mostrar que iniciativas simples podem melhorar não apenas a qualidade do ensino, mas de comunidades inteiras.

Não poderia deixar de finalizar esse artigo com as palavras do professor Márcio quando questionado sobre qual é a importância da educação para o presente e futuro do Brasil: “Não existe outro modo de provocar transformações sociais e impactos, que não seja pela educação”.

COLUNISTAS / Savio de Carvalho

Sávio de Carvalho Pereira, natural de Lorena, é pai da Luane e mestre em Engenharia Química pela Faenquil (hoje EEL-USP). Amigo, leal, bem humorado, teimoso, é realista, mas sem perder o idealismo, sobretudo quando se trata de construir um mundo melhor para se viver, onde haja harmonia entre o ser humano e o meio ambiente.


saviocp@outlook.com

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