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COLUNISTAS / Perai, vem cá

Cemitérios Mundanos

10/12/2015

Por Wagner Ribeiro

Hoje, morri.
Morri soterrado dentro de casa quando colocava meu filho para dormir.
Morri, quando deitei no meu quarto e a luz apagou.
Nunca mais a vi acesa.
Não levantei. Não mais.
Morri em Mariana, na praia de lama. Afogado, na lama.
Morri em cada peixe que se arraigou de resíduo.
Morri sujo. Do ferro da terra, que dela fora arrancado.
Por cada casa que foi carregada, por cada respiro.
E expirar nunca foi tão dolorido. Haja sustento para tanta dor.

A cada instante vejo capuzes pretos. Vivi pela paz,
Lutei por ela. Mas ninguém nunca tem tempo.
Paz é branca. O que dá dinheiro brota da terra e é tão escurecido quanto à noite.

Morro na rejeição humana.
Nas favelas, na amargura dos morros sem luz.
Morri porque minha pele é escura e fui confundido com um ladrão.
Morri porque já nasci morto. Morri de fome. Doente.

Perdi as contas. Em Paris, morri no bar, depois da prova na universidade.
Morri em outra pessoa, ali mesmo, porque tinha conseguido o primeiro emprego.
Morri no Oriente Médio, onde sangue jorra no lugar de água.
Morri na China, vítima da poluição. Na África, porque nasci esquecido.
Na África, porque do meu país é tudo o que sabem. Seu nome. Só.
Lá, morri pelo Boko Haram, sem braços. Além disso, morri pela fome.
Pela AIDS. Lá, morro a cada instante.

Morri nas Américas, nos Estados Unidos, dentro do cinema.
Passava comédia. Nos créditos, não houve riso. Houve choro.
Na Índia, fui – me também deste mundo, porque nasci numa casta inferior.
Na Rússia, por meio de explosões nucleares.
No Japão, sob a tecnologia derrubada pela água.

Já não morri uma única vez. Perdi as contas. Cansei de morrer.
A vida não é vida, parece um sopro! Ora, pois, quanta crueldade!
Pela igualdade, morri. Morri, pelos estereótipos. Morri pela corrupção.
Pura morte. Viver parece mesmo é estar morto.
Morri, porque sou natureza e nunca me respeitam.
Pisque os olhos. Já morri mais de mil vezes no mundo, só nessa piscada.
Continuo a morrer. Onde está o homem bom, para salvar essa pobre gente,
de tanto sofrimento? Viver tem que ser sinônimo de felicidade. De igualdade.
De coisas boas.
Só conheço uma única coisa que ainda não morreu.
A esperança.

Sobre o autor:

Wagner Ribeiro nasceu em Lorena-SP, no dia 18 de fevereiro de 1998, e hoje mora em Piquete-SP. Tem 16 anos e está cursando o 2º ano do ensino médio e do ensino de técnico em Química pelo Colégio Técnico de Lorena, colégio que pertence à USP e está inserido na Escola de Engenharia de Lorena – EEL-USP. Gosta da área de Química, na qual pretende seguir carreira, mas também supre paixão por Filosofia, Sociologia, além de Literatura, Astronomia e encanta-se por Metafísica. Escreve desde os 8 anos de idade, adora projetos sociais, MPB e Renascimento.

COLUNISTAS / Academia Jovem de Letras

Espaço reservado às produções dos acadêmicos da Academia Jovem de Letras de Lorena.  Membros da AJLL: Beatriz Neves, Camila Loricchio, Danilo Passos, Gabriela Costa, Gustavo Alves, Gustavo Diaz, Heron Santiago, Isnaldi Souza, Jéssica Carvalho, João Palhuca, Julia Pinheiro, Lelienne Ferreira, Lucca Ferri, Samira Tito, Thiago Oliveira, Vânia Alves e Wagner Ribeiro.


samira_007_@hotmail.com

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