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COLUNISTAS / O saber acontece

Placebos e sugestões

30/10/2015

O efeito placebo ou de autossugestão é conhecido, reconhecido, mas não totalmente explicado. Supõe-se que o próprio organismo dispara sinalizadores que passam a agir com o papel que o medicamento teria no combate a uma infecção, por exemplo. Em todos os testes clínicos, administra-se um certo medicamento a um grupo e a outro é administrado um placebo, teoricamente uma cápsula ou um líquido que se assemelha fisicamente ao remédio, mas nada contém, chamado de placebo. Não fui investigar para saber se em pessoas sedadas ou em estado de coma, às quais são administrados os mesmos medicamentos, o efeito inexiste. Ou seja, se inconscientemente não estamos sabendo o que estamos tomando, o efeito placebo deixaria de existir.

De forma contrária, poderia o pensamento negativo e o desejo de não se curar superarem o efeito medicamentoso, tornando o remédio inócuo? Tal qual a funcionária que faz de tudo para que os assuntos de sua secretaria não funcionem, haveria tal força antivital em nossas conexões químicas? Um assunto que presumo ser possível, porém desconheço.

Minha vivência hospitalar tem mostrado que o espaço destinado a consultas e manifestações religiosas é grande, desprezando-se por vezes a própria vontade do paciente. Creio que, subliminarmente, os profissionais da saúde assim permitem devido ao efeito placebo ou de sugestão daí resultante. A equipe fará tudo para curar o paciente, mesmo que, ao final, ele atribua tal mérito a forças míticas e místicas. Como diz o ditado: não importa a cor do gato, desde que ele cace os ratos. Concordo. Mas assumir apenas esse aspecto é um pequeno passo para ditames mais fanáticos e intolerâncias religiosas que abundam no mundo, por todos os lados. Nosso Congresso Nacional é repleto de tais manifestações, esquecendo que a separação entre Igreja e Estado foi – ou deveria ter sido – feita há um bom tempo.

Mas fica aqui a sugestão – com o perdão do trocadilho – aos colegas da saúde se manifestarem sobre esses efeitos, ainda mais em tempos de pílulas milagrosas sendo anunciadas aos borbotões pelo mundo virtual da internet.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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