Sobre o silêncio
25/02/2015
O silêncio me traz duas sensações: tranquilidade e medo.
Sempre opto pela tranquilidade, pois o medo me paralisa e breca sonhos e perspectivas. A tranquilidade me impulsiona e me permite projetar. Sigo a máxima de Pessoa: ‘Tomo a infelicidade como felicidade, naturalmente como quem não estranha que haja planícies e montanhas e que haja rochedos e ervas’. Assim eu me permito cantar as desventuras que vão e vêm num turbilhão frenético de dores e odores; gostos e desgostos; luzes e sombras.
Também por isso digo como Cecília Meireles: ‘Eu canto porque o instante existe e minha vida está completa. Não sou alegre, nem sou triste. Sou poeta’. Assim, sou movido pela tranquilidade que emana do coração da Terra que, mesmo dona do tempo, está sempre em movimento.
Gosto do silêncio que me tranquiliza. Ele age sobre mim e me permite sonhar. Somente o sonho vence o medo, este medonho que embrutece a alma e corrói o corpo.
Prefiro o silêncio que me impulsiona para além de mim mesmo e me lembra que sou movimento no Movimento. E mesmo quando o medo me faz uma visita eu o tomo como necessário para despertar em mim a fragilidade a que estou condenado e a me lembrar que a argila com que fui composto é frágil e finita.
Não sou o Silêncio, mas faço parte dele. Prefiro a tranquilidade. O medo eu o passo para quem precisa dele.