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Crônica de uma mãe em quarentena

07/04/2020

“Homeschooling é o termo usado para quando a formação escolar das crianças acontece em casa. Nos últimos dias, tem disputado com home office ou coronavírus o trend topic das redes sociais e dos bate-papos nos grupos de amigos, família, academias e, lógico, de pais da escola.

‘Ok, você vai conseguir tirar de letra’, foi o que pensei ao receber os planos de aula com objetivos, atividades preparadas e links de vídeos da aula em questão (sim, professores estão em casa trabalhando, e dobrado).

Como colega de profissão, receber um plano de aula assim é quase que ter metade do trabalho pronto, mas ali já imaginei como deve ser triste preparar uma aula para outra pessoa aplicar, sem poder avaliar se os métodos foram precisos ou ver o envolvimento das crianças.

Mas vamos lá… tirar de letra era a ideia do início. Porém, quem já lecionou sabe que, por mais perfeito que seja o plano de aula, trabalhamos com seres humanos e tem dia que aquela aula maravilhosa que sonhamos não rola. Se não rola em sala de aula, quiçá em casa, mas vamos lá, você consegue… Afinal, fez isso por tantos anos; vai dar certo.

Conteúdo pré estudado, mãe preparada… ‘Vamos, filho: vem brincar, vamos brincar de roda’…

Aquele pequeno ser de 3 anos se joga no chão, quer tudo, menos brincar de roda. Lembro-me do vídeo da Tia, falando sobre as atividades, que é para fazer, que está com saudades…

Ele levanta e participa… e quando você finalmente consegue o envolvimento dele com o assunto, o filho mais velho, do outro lado, pergunta: ‘Mãe, o que é um sextilho?’

Ensinar duas crianças de idades diferentes é um tanto difícil, mas não impossível. Conheci uma escola rural na qual a professora tinha 4 séries diferentes numa sala só: seus instrumentos de trabalho eram um quadro negro, giz e um velho mimiógrafo. Ali, crianças eram alfabetizadas e aprendiam perfeitamente. Nem preciso dizer como admirei aquela profissional.
Outro desafio é quando, na apostila, pede-se para discutir sobre o tema com um amigo. Aí você faz a videochamada: há mais de 15 dias sem se falarem, eles querem discutir tudo, menos a possibilidade de reciclar embalagem long life. Discuto com ele, mas aos poucos, a ficha vai caindo… e em casa, estou no papel social de mãe, não de professora.

Sim, o ensino a distância é uma realidade e deve ser incluído na rotina de nossas crianças, mas nada substitui a escola e o professor. Por enquanto, temos de ter paciência, persistência, fé e cobrar menos dos nossos filhos e de seus mestres.

Só tenho certeza de uma coisa: quando tudo isso passar, e o contato físico for uma possibilidade, quero abraçar as professoras de meus filhos e dizer: ‘Muito obrigada! Não vivemos sem vocês’!”

Tatiana Valente
Jornalista, professora e mãe

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