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Beto Múcio: pelo desenvolvimento do turismo religioso em Lorena

04/04/2020

Por José Aurélio Pereira e Grazi Staut

O lorenense Carlos Alberto Leite da Silva, mais conhecido como Beto Múcio, nasceu em 7 de setembro de 1969, quando a independência do Brasil comemorava 147 anos. Filho de Múcio Altino da Silva e de Leoni Leite da Silva, é advogado e militante da Igreja Católica. Escolheu o Parque Águas do Barão para conversar com O Lorenense. Lá, bem perto de relíquias de santos tradicionais, como Santa Terezinha do Menino Jesus e Santa Elizabeth, falou sobre a importância da valorização do turismo religioso e do quanto isso o motivou a declarar-se pré-candidato. “A gente tem potencial pra ser inserido nesse circuito religioso e não sei por quais motivos Lorena até hoje não se mobilizou nesse sentido”.

Demonstrou despojamento e vontade durante o bate-papo. “Eu sou um cidadão e não me sinto satisfeito com o nível de serviço que está sendo prestado e com a forma que o progresso vem sendo conduzido no município”, afirmou, destacando que tem se dedicado ao estudo de Lorena, cidade pela qual nutre um forte sentimento, para ser um candidato preparado e determinado. “A gente prefere valorizar os pontos positivos de cada gestão, seja essa, da atual gestão, como as que passaram. A gente não tem esse perfil de acabar com aquilo que está funcionando. Se a gente constatar que a forma como está sendo tratado o dinheiro público é eficiente, vamos manter. E o que não for bom, vamos adotar o nosso perfil”. Confira a entrevista, na íntegra:

 O Lorenense – Numa outra ocasião, você colocou uma questão: que haveria um eventual desvio de função da Guarda Municipal, porque o trabalho deles não é exatamente a questão da segurança. Disse que a Guarda tem que se preocupar com prédios públicos. Como que é este seu raciocínio em relação ao direcionamento do trabalho da Guarda Municipal?

Beto Múcio – Com relação à Guarda Municipal, eu até acho que estão fazendo um belo trabalho em Lorena. Mas como advogado, a minha preocupação maior é com o desvio da finalidade, da atividade que eles estão exercendo, que, inclusive, chama-se “usurpação de função pública”, que é crime. A minha preocupação é exatamente a Guarda Municipal começar a fazer abordagens típicas da Polícia Militar, o que foge do artigo 144 da Constituição da República, que define muito bem quem são os órgãos de segurança pública; e não inclui a Guarda Municipal. A gente observa, inclusive, no site da Prefeitura Municipal, diversas abordagens, inclusive de estelionato… Quer dizer, não é um crime de ação imediata, que caberia à Polícia Militar ou à Polícia Civil tomar as devidas providências, e não à Guarda Municipal.

Eu acho que esse problema fica muito numa linha de risco. Mas por que essa linha de risco? Porque ela pode levar a Prefeitura a ter que assumir um prejuízo eventualmente, com uma ação indenizatória, uma vez que há um desvio de finalidade, uma usurpação de função pública. O município não está livre de, a qualquer momento, ser abordado com uma ação indenizatória, ainda mais pela condição que está sendo feita essa abordagem. Como você já havia dito, a função da Guarda Municipal é proteger o patrimônio público municipal, entendeu? A gente observa, no próprio site, que tem lá as abordagens que foram feitas próximo à USP, ao Santa Teresa… que não são prédios públicos. Eles estão confessando essa usurpação de função pública. Eu acho que isso é um pouco perigoso e pode trazer prejuízos para o município.

O Lorenense – Só que Lorena teve uma herança maldita de índice de violência. Houve, há cerca de dois anos, a publicação de uma pesquisa infeliz que deu a Lorena essa fama. E a Guarda Municipal, como outras forças de segurança, resolveu unir forças e aquele negócio todo… E hoje, as estatísticas mostram que os índices que estão mais equilibrados, até diminuíram. E também tem um fato interessante, que aconteceu em janeiro deste ano, na cidade de Paulínia: a Guarda Municipal foi acionada pela mãe de uma menina de 13 anos. Ela estava na casa do pai, sozinha com ele, e se trancou no banheiro antes de um eventual estupro que o pai faria. Essa menina mandou mensagem para a mãe e o padrasto, dizendo que estava trancada no banheiro e precisava de ajuda. Eles então ligaram para a Guarda, que foi verificar a situação e o pai acabou preso. Então, quer dizer… é importante também uma mobilização em torno da segurança pública. Não existe nenhuma manobra jurídica que justifique este tipo de conduta?

Beto Múcio – A Guarda Municipal, como qualquer cidadão, pela Constituição, pode dar voz de prisão. Isso é uma atividade típica, que foi atribuída pela Constituição de 88, de que qualquer cidadão pode dar voz de prisão em caso alguém ser flagrado cometendo crime, inclusive a Guarda Municipal. O que eu estou querendo deixar claro são as condições de policiamento ostensivo. Só pra você ter um exemplo: nem o Exército pode sair fazendo uma abordagem nas pessoas, porque as funções são bem limitadas no artigo 144 da Constituição. O Exército só pode agir se tiver autorização do Governo Federal. Caso contrário, eles não podem fazer isso. Esse é um exemplo típico. A Guarda Municipal também está na mesma situação, até porque ela não é preparada pra esse tipo de atividade. Quando alguém ingressa na Polícia Militar, seja soldado, praça ou oficial, ele passa por um longo período de aprimoramento, o que não acontece na Guarda Municipal. Então, a minha preocupação, inclusive, é com relação a esse preparo. De repente, uma abordagem infeliz pode causar um prejuízo enorme para o município, uma ação indenizatória… E quem vai pagar, na verdade, é o contribuinte. Então eu, como advogado, tenho essa preocupação de fazer com que tudo funcione dentro da lei.

O Lorenense – Você, há algum tempo, assumiu a identidade de um pré-candidato à Prefeitura de Lorena. Você que é advogado, tem a sua vida estruturada dentro do Direito… o que te motivou a se declarar pré-candidato?

Beto Múcio – Eu sou um cidadão e não me sinto satisfeito com o nível de serviço que está sendo prestado no município e com a forma que o progresso vem sendo conduzido no município. Primeiro, a gente pode observar a grande perda de indústrias aqui em Lorena. Eu até sempre comento isso, dos últimos 20 anos. Veja quantas empresas a gente tinha há 20 anos atrás e quantas temos hoje. Então, a gente consegue observar que nós mais perdemos empresas do que vieram empresas pra Lorena. Isso causa um impacto enorme para o município, inclusive reflete no índice de criminalidade, porque uma vez que não se tem emprego e renda, a criminalidade tende a crescer. Com relação à criminalidade, eu atribuo essa redução ao Brasil inteiro. Esses índices de criminalidade foram reduzidos no Brasil inteiro. Você pode pegar qualquer cidade do Brasil e ver que os índices caíram. Com a eleição do Bolsonaro, quando ele foi eleito… e as políticas que ele vem adotando fizeram com que reduzisse os números da criminalidade. Isso não é só aqui em Lorena não… Você pode pegar os índices do Rio de Janeiro e onde você for buscar, vai ver que caiu.

O Lorenense – Em relação a esses índices, o Bolsonaro completou o primeiro ano agora…

Beto Múcio – Começou com o Temer, na verdade. Foi quando começou a reduzir os índices de criminalidade. O país saiu daquele processo de estagnação e começou a avançar, embora a passos curtos… Mas o país começou a se desenvolver e, com isso, já refletiu diretamente nos índices de criminalidade.

O Lorenense – E aqui em Lorena, então, você não coloca essa mobilização entre as três polícias e enfim… Existe alguma influência disso ou você acha que Lorena é reflexo?

Beto Múcio – A criminalidade, você só reduz com um conjunto de estruturas, que vão desde as estruturas sociais disponíveis para a população. A gente não pode esperar que a ponta da lança venha conter a criminalidade. O que é a ponta da lança? É a Polícia! A gente tem que fazer um trabalho pra que as pessoas não cheguem até a Polícia. E esse trabalho começou a ser desenvolvido a partir do governo Temer. Embora ele tenha alguns envolvimentos, como os exemplos que foram dados… o Bolsonaro principalmente, com um desenho de retidão. E acaba refletindo na própria população. Não e necessário o policiamento ostensivo para reduzir o índice de criminalidade, volto a dizer. Existem vários mecanismos sociais que podem ser desempenhados, inclusive a geração de emprego e renda, atividades esportivas, atividades sociais, culturais… Elas ajudam a reduzir a criminalidade. Eu vejo que o que eleva a criminalidade, um dos pontos mais relevantes da criminalidade, é o ócio, a falta de atividade. Isso aí é comum, eu sempre falo… É comum de qualquer pessoa. Normalmente, quem fica no ócio, sem ter o que fazer, sem nenhuma atividade, tende a buscar algo. Normalmente, esse algo nem sempre é bom. Ele acaba buscando um caminho equivocado, e isso é comum de todo mundo. Fica trancado no quarto o dia inteiro que a gente acaba pensando besteira… Isso é próprio do ser humano.

O Lorenense – Eu acho que o maior problema da criminalidade tem a ver com a questão do tráfico de drogas, que é muito rentável…

Beto Múcio – É rentável porque gera renda para as famílias. A hora que a gente começar a gerar renda de forma lícita, você pode ter certeza que muitas famílias irão preferir seguir o caminho da licitude do que o da ilicitude, que é o tráfico… que o risco é muito maior.

O Lorenense – Mesmo no caminho da licitude, a gente não bate naquele negócio do que rende mais? Porque o trabalhador ganha pouco. Lorena, por exemplo, é muito pautada pelo trabalho no comércio; e o comércio não tem condições de pagar muito. Por exemplo… Vamos supor que você é um cara que tem uma vida relacionada ao tráfico de drogas. Aí eu te dou um emprego. Será que esse emprego, essa possibilidade que eu vou te dar, não será bem menos rentável que a droga? E aí a gente não vai conseguir, mesmo dando suporte.

Beto Múcio – Aí entra a lei da oferta e da procura. Se o tráfico é grande no município, é porque o consumo também é grande. E quando o consumo é grande, você vai perceber que, por trás de tudo isso, existe uma desestrutura familiar, existe uma desestrutura inclusive social no município. Volto a dizer: se a gente tem atividade constante, atividades culturais, família estruturada, se as instituições religiosas estão presentes na vida das pessoas, a Prefeitura está dando mais suporte às instituições… O que eu considero como mecanismos de controle social, que são a família, as instituições sociais, escola e esporte… Se a gente der mais subsídio pra esses mecanismos de controle social, com certeza, a criminalidade vai cair. E na verdade, o consumo de entorpecentes não se refere só às pessoas de baixa renda. Pelo contrário. Quem mais consome drogas são as pessoas de poder positivo maior, principalmente as drogas mais caras, como a cocaína. Essas drogas são normalmente consumidas por pessoas de uma classe social maior.

O Lorenense – Sobre a sua plataforma eleitoral: além dessa questão da criminalidade, você coloca também o turismo religioso. O que fez você se atentar a isso?

Beto Múcio – Na verdade, eu já me atento há muito tempo esse assunto, que inclusive me motivou a ser candidato, pelos potenciais que Lorena tem para se desenvolver e não estão sendo utilizados. A gente observa, por exemplo, cidades menores que Lorena que estão trabalhando com turismo e estão tendo um resultado positivo. Um exemplo é Passa Quatro, uma cidade pequena, que tem trem e uma atividade turística mais intensa… Quer dizer, então… a gente tem esse poder, esse potencial enorme. Porque a gente pega Aparecida, com uma faixa de 16 milhões de turistas ao ano; o Frei Galvão, em Guaratinguetá; Canas, agora com a Renovação Carismática; e Cachoeira Paulista, com a Canção Nova. Então, quer dizer que a gente tem potencial pra ser inserido nesse circuito religioso e não sei por quais motivos Lorena até hoje não se mobilizou nesse sentido, uma vez que a gente também tem um potencial do turismo religioso.

Nós temos aqui na capela das Águas do Barão duas relíquias: uma de Santa Terezinha e Santa Elisabeth. Temos a única Basílica do mundo fora do Vaticano que dá indulgência, da mesma forma que a Basílica de São Pedro. Temos também agora o padre Léo, que está pra ser beatificado. O padre Léo, que teve sua passagem aqui em Lorena e foi um dos mentores da Comunidade Bethânia. No Shopping, já existe a capela do Frei Galvão… Pessoas inteligentes que já anteviram que isso vai ser um filão do futuro, e Lorena também nesse circuito religioso. Só que a cidade não pode ficar de fora. Há uns dois ou três meses, eu estive no Frei Hans, e lá tem uma placa do circuito religioso, onde aparece Aparecida, Guará, pula Lorena e vai para Cachoeira. Quer dizer, a gente tem que começar a enxergar esse potencial com outros olhos, que é um grande filão. Claro, estamos em fase de pré-campanha ainda. Mas caso dê tudo certo e a gente saia candidato, o objetivo nosso é preparar a cidade para receber, no mínimo, 1% desses turistas, que daria uma faixa de 160 mil turistas ao ano. E isso, sem dúvida, começa a trazer um progresso para Lorena, considerando que parte dessas pessoas irão consumir no município de Lorena, seja na rede hoteleira, que a gente pode atrair, e no próprio comércio. Porque uma vez que o turista começa a circular em Lorena, ele vai consumir nas padarias, farmácias e no comércio em geral. A gente precisa fazer a economia começar a funcionar.

O Lorenense – Lorena tem uma identidade de cidade universitária, né!?

Beto Múcio – É… Mas continuando no turismo, a gente tem um outro filão também, que é o turismo rural. Lorena é uma cidade que já produz azeite. Nós temos azeitonas no Pinhal Velho e no Pinhal Novo. Inclusive, no passado, tem aí uma história que os portugueses, quando vieram pro Brasil, que eles pediram, a coroa pediu, pra queimar as oliveiras da nossa região, por conta da qualidade do nosso azeite, que poderia ser um potencial concorrente do azeite português. Então, a gente tem que começar a analisar o nosso potencial, inclusive o azeite, que eu vejo como atrativo para o turismo rural… e tentar fomentar esse tipo de atividade, tanto o turismo rural como o turismo religioso. E assim, também melhor aproveitar os acadêmicos que se encontram em Lorena, que também fazem parte de uma gama de desenvolvimento.

Agora em vou entrar na parte da empregabilidade. Lorena é um polo de tecnologia. A gente produz ciência em Lorena. Só que do que adianta a gente produzir ciência se a gente não consegue produzir o produto final, aquele que vai para o balcão? A gente precisa transformar a ciência disponível em Lorena em favor da população de Lorena. Um exemplo: o projeto do nióbio foi desenvolvido em Lorena, assim como o projeto do pró-alcool e do biodiesel. Só que qual é o problema maior nosso? Nós produzimos essa tecnologia e o nióbio, por exemplo, foi pra Araxá, está gerando riqueza lá. A gente tem que fazer gerar riqueza em Lorena. A gente pega até um exemplo: o Japão é um país que não produz nada, praticamente, na parte extrativista. Mas eles produzem tecnologia. Atrás da tecnologia, vêm um monte de outras formas de enriquecer o município. Então, a gente quer aproveitar a tecnologia, até porque o Brasil é um dos maiores importadores de tecnologia do mundo e a gente não pode ficar de fora desse filão também, que é uma das formas de gerar emprego também. Porque nós temos em Lorena uma capacidade muito grande de mão de obra especializada, principalmente a nível universitário. Então, esse é um atrativo para as empresas se assentarem no nosso município.  Semana passada, estivemos em São Jose dos Campos, em uma reunião no Centro Tecnológico. Nós fomos buscar conhecimento para implantar esse tipo de serviço em Lorena, que seria a criação do parque tecnológico, para poder desenvolver a tecnologia e fazer com que ela se torne um produto e chegue no balcão. Pra isso, a gente precisa fazer um trabalho conjunto: Prefeitura, Banco do Povo, BNDES, incubadora de empresas e polo universitário. Essas são algumas das formas que a gente já pode começar a trabalhar.

O Lorenense – E na parte estrutural, a questão das chuvas?

Beto Múcio – Na verdade, são soluções simples, não são paliativas, que podem resolver o problema de Lorena. Veja o exemplo do rio Taboão, que no passado lançava água até as imediações do antigo Nosso Cinema, hoje Casas Bahia. Fizeram um murro de contenção no parque ecológico, nunca mais tivemos esse problema. Assim deve ser conduzido com relação ao rio Mandi, que começa a soltar água no Novo Horizonte, aí chega na Vila dos Ipês, Bairro da Cruz, Vila Passos, Vila Geny, Vila Nunes e assim vai, até a Vila Brito, inundando toda essa área. O que a gente tem que fazer é um sistema que venha segurar essa água. A gente tem que fazer uma barragem de contenção também na cabeceira do rio. Inclsuive, já existe junto à Cteep uma barragem que dá pra ser melhor aproveitada, só que a Prefeitura precisa estar próxima da iniciativa privada pra realizar esse tipo de trabalho. Na verdade, eles já fizeram. Está praticamente pronto. Precisa fazer as comportas e completar na borda dessa cabeceira.

O Lorenense – Outro problema que a gente vê aqui é da assistência médica. Existe um entupimento de serviço de assistência médica aqui, até por conta de Lorena ser referência nessa questão, em relação às cidades aqui do Fundo do Vale. E aí, muita gente manda doente de fora pra cá. Como você pensa em conduzir esse tipo de coisa?

Beto Múcio – Primeiro, a gente tem que tentar solucionar esse problema da seguinte forma. A gente sabe que a maior parte dos municípios vizinhos mandam sua atenção primária pra cá. Mas na verdade, cada município tem que ser responsável pela sua atenção primária. Quando chega a porta de entrada, que é o Pronto Socorro, eles buscam o Pronto Socorro de Lorena. Esse é um foco do problema em Lorena, na nossa opinião. Inclusive, já estamos estudando medidas pra sanar esse problema. A gente vai dividir a cidade em quatro. Nós teríamos quatro postos de saúde: no Bairro da Cruz, Vila Nunes, Cabelinha e Industrial, e o atendimento se estenderia até as 22h.

E aí as pessoas me questionam: mas como é que você vai atender, se de repente, o município não tem verba pra isso? Uma das formas seria flexibilizar o horários dos médicos. Por exemplo: ele vai atender nos horários de pico, de manhã, e vai pra casa dele. E das 18h às 22h, ele volta pra atender no bairro dele. Quer dizer… normalmente, 80% a 90% das pessoas que vão ao Pronto Socorro não são casos de urgência e emergência. Esse é o foco do problema! Acaba superlotando o Pronto Socorro, justamente por atendimentos que não são urgência e emergência. Esse tipo de perfil tem que acabar.

A atenção básica, cada município tem que fazer o seu. A porta de entrada, Lorena faz. Já o atendimento terciário, que são cirurgias de alta complexidade, a gente tem que empurrar pro Estado. Inclusive, a responsabilidade é do Estado, não do município. O município, até mesmo pela legislação, tem que destinar 15% do seu orçamento para a saúde. Então, a gente atender esses 15%… eu não digo que é o suficiente, mas atendendo a lei. A gente tem que fazer as obrigações domésticas e cada município tem que fazer o seu. Então, o que a gente pode fazer, junto com a microrregião? É tentar trazer uma UPA, que é do Governo Federal, pra poder atender essas pessoas das imediações de Lorena, das cidades vizinhas. Seria uma das alternativas: as cidades se mobilizarem pra fazer esse tipo de atendimento. Não precisa nem necessariamente ser em Lorena. Que se faça em Guaratinguetá, ou Cachoeira… Pelo menos, a gente vai desafogar a Santa Casa, porque a gente tá absorvendo um problema que não é nosso.

OLorenense – Existe muita reclamação, principalmente por parte das pessoas mais velhas, em relação à falta de valorização da cultura da cidade, de suas personalidades… O que você tem a dizer sobre isso?

Beto Múcio – É… inclusive, a gente tá terminando de elaborar o nosso plano de governo e, na área da educação, a gente já contempla essa situação, porque é essencial que as pessoas conheçam Lorena. Pra você ver: já estamos em 2020 e ninguém sabe que temos duas relíquias aqui no Águas do Barão. Isso é falta de conhecimento da cidade! Então, a gente quer incluir na grade escolar a história de Lorena. Isso é essencial, até mesmo pra gente fomentar o turismo religioso. O lorenense tem que ter orgulho de ser lorenense, tem que ter orgulho da sua história. Quem não conhece sua própria história é um saco vazio, a verdade é essa. A gente precisa conhecer nossa história e propagar nossa história.

Um exemplo: eu estudava em São Paulo, o professor falou que Lorena era do Estado do Rio e que só tinha bandido. Eu tive que interromper a aula e falar: “Primeiro, Lorena não tem só bandido! E segundo, Lorena não fica no Estado do Rio e sim no Estado de São Paulo. Lorena tem pessoas boas… É uma cidade que teve condes e barões… E Lorena no passado foi uma região muito rica, que foi se perdendo essa riqueza ao longo do tempo, com a perda do ciclo do café”. Então, a gente tem um potencial e não pode perder esse potencial histórico. As pessoas têm que saber…

O Lorenense – E como você pensa em fazer esse trabalho de valorização da cultura lorenense?

Beto Múcio – Então… é começar pelas escolas, entendeu?! A gente já está montando uma grade contando a história de Lorena, ensinando para os alunos da Rede Pública Municipal o que aconteceu no passado, o ciclo do café e a sua importância, a importância dos nossos prédios históricos, que estão sendo demolidos e pouco valorizados… Nós temos, por exemplo, na própria Praça do Rosário, aquele prédio que eu acho magnífico, que é da família do “Seu” Cornelinho, que já faleceu… É uma casa que está se deteriorando com o tempo. A gente precisa valorizar esse patrimônio que temos no entorno. A gente tem a casa da Mariazinha Pinto Antunes, que faleceu, e está lá… É um potencial turístico que nós temos. Inclusive, a gente tem uma proposta, um estudo, de fazer um museu imperial, caso a gente consiga ou comprar ou desapropriar esse imóvel. Quando a gente fala em desapropriação, eu sei que, aos olhos do proprietário, não soa muito bem. Mas a gente tem que preservar a história do município. A gente vai primeiro, como advogado, preservar o direito de propriedade. Mas uma vez que a gente não consiga negociar esse imóvel, pra trazer esse tipo de atividade pra Lorena, inclusive pra fomento do turismo da nossa região, a gente vai ter que tomar outras medidas legais. Uma delas é a desapropriação. Eu sei que, politicamente, não é bem visto. Mas a gente vai ter que preservar a história de Lorena. E nesse prédio, em específico, existe muita história guardada, que a gente precisa abrir pra população.

O Lorenense – Vamos falar sobre as escolas… Quantas escolas tem o município?

Beto Múcio – A informação é que são 21 escolas e 4 creches municipais, se não me engano. Então, a gente tem que começar a trabalhar isso, a divulgar… Até mesmo tentar criar peças teatrais se reportando à época áurea do café, à época do Barão da Bocaina, que fez grandes serviços pra Lorena… Conde de Moreira Lima, que também tem que ser valorizada a história dele… E a gente pode introduzir a história de Lorena em peças teatrais, não só em livros.

O Lorenense – Lorena completou 231 anos em 2019. Numa eventual gestão sua, em 2021, Lorena vai completar 233 anos. Quando chegar o aniversário de Lorena, lá em novembro, o que esperar de um primeiro ano de Beto Múcio?

Beto Múcio – Caso a gente passe pela convenção, seja candidato e seja eleito, a população pode esperar muito trabalho da nossa parte. Por que desse trabalho preliminar? Porque a gente precisa, primeiro, ter as noções reais de como se encontram as finanças de Lorena… porque até o momento, a gente não tem uma certeza de como ela se encontra. Inclusive, às vezes, eu me questiono: quando o município, o Executivo propôs fazer um empréstimo de R$ 10 milhões, acendeu uma luzinha vermelha pra mim… Ninguém faz empréstimo se tem dinheiro, certo? Eu acho que qualquer pessoa com um pouco de sanidade, não vai fazer empréstimo se tem caixa. Isso demonstra que a cidade não tem caixa. Esse é um dos sinais…

Existem vários imóveis do município que estão sendo leiloados, sendo que, na minha opinião, muitos deles podem ser melhor aproveitados para o município, para converter em serviços para o município. Então, por exemplo, eu acho que a gente tem que fazer um levantamento de como se encontra a situação financeira do município. Na minha opinião, não é nada contra nenhum prefeito, mas a gente tem que apreciar isso aí, é primordial que a gente faça isso, pra ter uma noção.

As contas de 2013 foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas, mas a Câmara Municipal aprovou as contas. Então, quer dizer… as contas estão sendo mascaradas. A gente precisa desvendar o que realmente está acontecendo nas contas de Lorena. Por conta desse tipo de atitude, seja da Câmara Municipal ou do Executivo, a gente tem o direito de duvidar se realmente a cidade está indo bem financeiramente. A gente acha que está, mas ninguém pôs a mão lá pra ver ainda. Então, a gente precisa abrir isso aí, a partir do primeiro ano… até porque no primeiro ano, a gente vai trabalhar com o orçamento do atual prefeito, não com o nosso orçamento. A gente já vai estar engessado, no primeiro ano. Então, a gente não pode fazer promessa, mas algo que a gente pode dizer é que vai ter muito trabalho, principalmente pra sanar as contas públicas.

Até, voltando um pouquinho, em relação às contas públicas… Esses dias, num bate-papo lá com o grupo que está nos apoiando, a gente tava refletindo sobre as empresas que prestam serviço pra Lorena. Não existe estatal municipal aqui, mas existem empresas que foram contratadas pela Prefeitura e que a gente sabe que têm uma gama gigantesca de empregados. Uma vez que a gente constate que não há necessidade de tantos empregados assim, o que pode até estar sendo usado para fins políticos, a gente consegue reduzir o valor desse contrato. Então, a gente vai ter que fazer um levantamento inclusive junto às empresas que prestam serviços em Lorena; se há necessidade de ter tantos funcionários para prestar determinado serviço. Esse é um pente fino que a gente vai ter que fazer pra poder avaliar o custo dos serviços que são prestados para o município.

O Lorenense – Você disse “nada contra nenhum prefeito”, mas sabe-se que você moveu uma ação contra o atual prefeito. Primeiro: qual o teor dessa ação? E segundo: qual o ponto fraco que você enxerga na atual gestão e pretende trabalhar?

Beto Múcio – A gente prefere valorizar os pontos positivos de cada gestão, seja essa, da atual gestão, como as que passaram. O que foi positivo, é lógico, a gente vai manter. A gente não tem esse perfil de acabar com aquilo que está funcionando. Pelo contrário: o que é bom, a gente vai manter. Se a gente constatar que a forma como está sendo tratado o dinheiro público é eficiente, a gente vai manter. E o que não for bom, a gente vai adotar o nosso perfil; e o deles, a gente vai começar a aperfeiçoar. Até cito um exemplo: as fanfarras que tinham no passado aqui em Lorena… inclusive, a Fagap, do Gabriel Prestes, foi bicampeã brasileira… têm que ser reativadas. Essa é uma das formas da gente tirar as pessoas da zona de risco. Quantas crianças e jovens eram tirados da zona de risco por conta dessas atividades musicais? Então, a gente precisa valorizar o que é bom das administrações anteriores. A gente não quer aquilo de “porque nós entramos, o que for de outro, nós vamos acabar”. Pelo contrário! A gente vai valorizar.

E com relação às ações, eu entrei com cinco ações populares. Primeiro, por conta da indignação que eu fiquei quando foram aprovadas as contas em 2013. Foram apontadas diversas irregularidades na prestação de contas de 2013 e a Câmara Municipal acabou aprovando essas contas. Inclusive, um dos membros da CCJ deu um parecer acompanhando os apontamentos do Tribunal de Contas e, na hora de votar, ele votou contra o próprio parecer! Isso aí me causou uma estranheza enorme!

Então, como advogado e cidadão lorenense, eu não podia aceitar isso! Aí eu tomei a iniciativa, em 2016, entrei como essa ação popular… Inclusive, familiares do prefeito tinham sido beneficiados por trabalho, numa compra direta, sem licitação, por 3 anos… não foi por 6 meses, como costumam falar.  Durante 3 anos, compraram peças da Confiança Auto Peças sem licitação! E a gente tem que zelar pelo principio da moralidade, da eficiência. Então, isso aí me chocou e eu falei: “Não, eu vou ter que tomar essa providência”. Inclusive, a juíza da época acolheu o pedido de liminar, de indisponibilidade de bens, e bloqueou um patrimônio do prefeito. Se a gente não tivesse subsídio, jamais ela faria isso! A juíza só deu a liminar porque viu que existia irregularidade. Juiz nenhum dá uma liminar em cima de algo que não tem embasamento legal.

Em cima disso, depois entrei com mais 4 ações. Uma dela eu perdi. Tem uma ação que é da Planeta Educação, que eu entrei com recurso especial. Está em Brasilia, tramitando ainda, que em primeira instância aqui, em fase de recurso, nós perdemos. Mas eu entrei com recurso especial, porque a gente entende que, na medida que o prefeito aditou um contrato que foi declarado ilegal e nulo, ele não podia fazer o aditamento desse contrato. E ele fez o aditamento do contrato; e inclusive, foi ele que entrou com a ação. Ele e o advogado dele na época, pra anular o contrato. Só que ele entrou com a ação pra anular esse contrato, foi eleito e aditou o contrato. Eu achei minimamente absurdo e tive que entrar na Justiça. Está tramitando no STJ e espero ter sucesso lá.

O Lorenense – Mudando o foco, vamos falar de filiação política partidária. O senhor se filiou e, se sair, vai ser pelo PRTB, do general Mourão, o que acaba sendo uma herança positiva, dado o fato de que o general Mourão é vice-presidente da República. Só que a gente tem dois elementos interessantes no PRTB, que já foi o partido do Fernando Collor de Melo, que foi o primeiro presidente impedido da história do Brasil; então, aí é uma herança negativa. E a gente tem a questão do Levy Fidelix, que é um empresário, jornalista, mas envolvido com algumas irregularidades, tanto que foi vítima de ação… Teve uma época que contratou pessoas menores de idade para trabalhar em campanha, pagando R$ 60 para panfletar. Também é autor de algumas declarações polêmicas, como na época em que ele disse que “Se o sujeito é homossexual, não precisa votar em mim”. Então, existe uma linha de conservadorismo, só que também existe um discurso discriminatório. Enquanto filiado ao PRTB, você não teme ver o seu nome associado a toda essa herança negativa?

Beto Múcio – De forma alguma! Primeiro que, se a gente for eleito, quem vai governar seremos nós! Não vai ser ele. Nós iremos governar Lorena! Quero deixar bem claro isso. Segundo, a própria legislação determina que a gente tenha um partido para poder sair candidato. Não existe candidatura independente, infelizmente. Então, a gente precisa estar filiado a um partido.

Quanto ao que os outros fizeram, eu não posso assumir uma responsabilidade por algo que eu não fiz. Se o Collor fez, o Levy Fidelix fez… não é problema meu. Isso aí, eles têm que resolver. Seria até injusto atribuir isso a mim, à minha pessoa. Porque eu não fiz isso, não sou homofóbico, pelo contrário. A gente tinha o bloco Copo Cheio em Lorena. Quem fazia o bloco, na verdade, eram essas pessoas. Inclusive, tenho vários amigos que são e não discrimino, até porque a gente não está livre de nada nessa vida. Quem garante que a gente não vá ter um filho ou um neto assim? Pra mim, isso não é problema. O problema, para mim, é o caráter, não a sexualidade! Tem gente que é machão aí e é mau caráter. Esse é um problema pra mim. Não adianta ser machão e ser mau caráter, roubar os outros, enganar as pessoas… esse sim tem que ser banido. Então, eu quero deixar claro: por questão de justiça, eu peço pra vocês que não me igualem às pessoas que cometeram equívocos no passado. Eu não sou eles! Seria uma injustiça me atribuírem algo que eu não fiz.

O Lorenense – Não somos nós, tá?! Nós só citamos uma declaração de um político do seu partido. Ele falou isso lá atrás, depois tentou reformar essa declaração…

Beto Múcio – Eu sei, mas eu tenho que deixar claro porque você está falando que o Levy Fidelix é contra o homossexual e eu não sou. As pessoas são livres. Eu respeito muito o livre arbítrio. Cada um é feliz do jeito que quer. Só isso! Que não façam isso, que não venham interferir na sua conduta negativa, não é só com relação à sexualidade não… São todos os tipos de condutas ilegais com as crianças. Porque as crianças têm que ser protegidas. E isso a gente vai fazer. Disso, você não tenha dúvida. Não é proteger em relação à homossexualidade e sim a qualquer tipo de desvio de conduta. A gente vai proteger as crianças. Porque a base da sociedade é a família. E onde não tem a família, o Estado tem que dar suporte pra evitar esse tipo de desvio.

O Lorenense – Por fim, já encerrando o nosso bate-papo: você é um cidadão católico praticante. Você pretende defender essa bandeira, de ser um representante da igreja católica dentre os candidatos? Como você vê o eleitorado cristão?

Beto Múcio – Independente de religião, a gente vai defender o cidadão do bem! Não existe essa de proteger uma classe A ou B. Nós vamos proteger o cidadão do bem! Primeiro, a gente já esta entrando em uma pré-campanha numa condição totalmente desleal! Como estão falando aí na rua… eu não tenho nome de político, não tenho dinheiro disponível pra gastar na campanha. Não tenho o baú pra queimar na campanha e comprar as pessoas. A nossa campanha vai se pautar nas nossas propostas, pra trazer o benefício pra cidade e mais ninguém! A cidade precisa ser desenvolvida. O prefeito, quando ganha eleição não tem que governar pra A ou pra B. Ele tem que governar pra todos. Então, essa linha aí que estão falando que eu vou administrar pra determinada classe, isso não procede! Nós vamos governar para todos, especialmente para as pessoas do bem.

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