No ano passado, 2017, escrevi um artigo sobre os 15 de agosto de antigamente em Lorena. Não esperava tanta repercussão! Deu o maior ibope, tanto na internet quanto pessoalmente… Quanta gente comentou que concordava, que as festas atuais nem se comparavam às de outros tempos!
Percebo que felizmente, agora, em 2018, a festa melhorou. Trouxeram artistas de renome para os shows, que voltaram a ser na Praça Arnolfo, mas as barracas e o parque de diversões continuam na Praça da Catedral. A rua Nossa Senhora da Piedade e a Praça voltaram a ficar movimentadas.
Os pregadores das missas da novena foram diversificados. Além da procissão (que foi cancelada por causa da chuva) e da novena, celebrações de envio da imagem da Padroeira a Caetés, em Minas Gerais, estado que também tem Nossa Senhora da Piedade como Padroeira. Realizaram Salão Nacional de Turismo Religioso, com conferências e mesas de debates, fórum permanente. Voltou a acontecer a Corrida de Rua e eventos com cavaleiros, ciclistas, off-roads, romarias, envolvimento de entidades, faculdades, clubes de serviços, Prefeitura, Secretaria de Cultura e Turismo, corais, dança, Diocese, Arquidiocese, santuários e outras organizações. Reagiram, “mexeram” para melhor, na tradicional festa, mas, mesmo assim, continua longe do brilho e da importância dos 15 de agosto de antigamente!
A HISTÓRIA TEM O DEVER DE SER EXATA!
Como “a história tem o dever de ser exata, de repousar sobre documentos e sua confrontação, sobre severos controles cronológicos e dados que possam ser comprovados” (segundo Robert Ambelain), volto a relembrar as festas da Padroeira de antigamente em Lorena. Afinal, durante 40 anos, publicamos as programações e comentários da Festa da Padroeira no marcante Jornal Guaypacaré, de onde pesquisei grande parte deste artigo que se segue.
“ISTO TAMBÉM PASSARÁ!”
Outra verdade que me consola ao escrever sobre a grandiosidade das Festas da Padroeira, dos 15 de agosto de antigamente, é a sabedoria, passada pelos antigos, de que nesta vida “tudo também passará”. Vale por toda a eternidade, para tudo e para todos. As roupas, nosso corpo, as ruas, construções, comércio, usos e costumes, tudo! Quantos de nossos pais, avós, parentes, amigos, que viveram estes outros 15 de agosto, já se foram, partiram para a eternidade? Daqui a algum tempo, seremos nós a partir.
SINAL DOS TEMPOS
Mas hoje tudo mudou: é só por computador, celular, redes sociais… Então, é natural que os 15 de agosto, as festas da Padroeira, também mudem com o tempo. Todas as coisas passam, passarão… Tentei, várias vezes, falar com o Bispo Diocesano, com o padre Cura da catedral, para fazer essa matéria… mas não consegui! É só secretária eletrônica, “ele não pode atender agora”, chama-chama e não responde, cai a ligação no meio, recados deixados sem um retorno sequer… Sinal dos tempos. A bem da verdade, exceções foram o Márcio José Leão Bueno, coordenador da Comissão de Festas, do Minhocão Móveis, e a Vera Maria Coelho Rodrigues da Silva, secretária Municipal de Esportes e Lazer, que me atenderam e informaram muito bem!
RECORDAR é VIVER!
Um pouco dos meus tempos de criança e de juventude, lembranças da história desta nossa Lorena querida, bela e culta! Uma verdadeira viagem no “túnel do tempo”! Há 313 anos, desde 1705, quando foi erguida a primeira capelinha em devoção à Nossa Senhora da Piedade, o 15 de agosto é um dia especial para Lorena… Eram tempos do Porto de Guaypacaré, o mais importante da região, no Rio Paraíba do Sul.
Já começava pela alvorada: tiros de canhão, do glorioso 5o RI, acordavam a população, às 5 da manhã! E as fantásticas bandas do 5o RI ou a Mamede de Campos percorriam o centro, tocando, animadamente. A gente usava, neste dia, as melhores roupas, ou roupas novas, especiais para o dia mais importante de Lorena! As costureiras quase não davam conta das encomendas… e o comércio de tecidos e roupas faturava bem mais.
Os lorenenses que estavam fora vinham visitar a terra natal… de ônibus ou trem. Havia horários especiais, o dia todo, de ônibus, das cidades vizinhas, para Lorena, até a noite, depois do show na Praça Arnolfo Azevedo. Chegando, muitos pegavam as antigas charretes para irem ao centro.
O almoço também era especial, com cardápio fora do comum, para os parentes que voltavam; e a família toda se reunia no 15 de agosto!
Havia missas desde a manhã até a solene, depois da procissão, que além das Irmandades com suas fitas, opas, carregavam velas acesas, terços, as cabeças cobertas com véus… Acompanhavam a procissão as Irmandades de Nossa Senhora da Piedade, São Benedito, Coração de Jesus, São José, Maria Auxiliadora, os Irmãos do Santíssimo Sacramento, com suas tochas e opas bordô.
Nas janelas das casas das ruas por onde passava a procissão, enfeites com toalhas, castiçais, flores… e o rádio ligado, alto, na ZYH-9, a Rádio Cultura, ajudando as Irmandades, os coroinhas, os anjinhos, os clérigos… quem integrava a procissão.
CONSUELO LEANDRO
A consagrada e já saudosa atriz Consuelo Leandro, lorenense, quando foi por nós homenageada com o Prêmio Jornal Guaypacaré, ao agradecer a honraria relembrou, emocionada, seus tempos de anjinho nas procissões da Padroeira.
DAMINHAS de HONRA
Havia, ainda, as daminhas de honra que saíam em frente ao andor de Nossa Senhora da Piedade. E depois ganhavam pacotinhos de doces e balas das donas Zizinha Albano e Licinha Ferraz.
JOÃO: de PADRE a BISPO em LORENA!
O padre João — depois bispo, único bispo do mundo a ter sua “carreira” toda numa só Paróquia, de padre a bispo em Lorena! – viveu 53 anos em nossa cidade e nunca perdeu nenhuma das festas da Padroeira… desde 1951 até 2004, quando faleceu.
ANDOR ENFEITADO, PADRE HUGO
Os andores, especialmente o de Nossa Senhora da Piedade, eram caprichosamente enfeitados. O saudoso Padre Hugo Greco enfeitava o portão do Santuário de São Benedito, para a passagem da procissão.
FOGUETES, CORDÕES de LÂMPADAS
O “Cabeção” ia à frente da procissão soltando foguetes… O “Zé da Graça” puxava o terço… E as ruas, à noite, eram todas super iluminadas com os cordões de lâmpadas que os festeiros e a Prefeitura preparavam.
SER FESTEIRO ERA UMA HONRA
Ser “festeiro da Padroeira” era uma honra, entrava para o currículo. Só nomes da elite eram sorteados ou escolhidos. Havia expectativa para a lista de festeiros do próximo ano.
PROGRAMAÇÃO
Nas lojas todas havia, pregados, os cartazes com a programação da festa religiosa, com os temas e os pregadores da novena, com os shows no palanque da Praça Arnolfo Azevedo, e com a parte esportiva.
Os pregadores da novena eram padres e bispos consagrados, nomes famosos. Os shows na Praça eram com artistas badalados, de primeira linha, da televisão, rádio, as estrelas da época.
A decoração da Catedral era maravilhosa, havia concorrência pra ver quem ia encher de flores o altar, a imagem, as naves da nossa majestosa Catedral.
Depois da procissão, na missa solene, os festeiros distribuíam lembrancinhas da festa: santinhos com a data, o ano e os nomes da Comissão de Festeiros…ou mini-imagens ou medalhas, da excelsa Padroeira. O Coral da saudosa profa. Del Mônaco dava um toque especial às missas da novena.
BARRACAS na PRAÇA, POVO LOTAVA!
O povo lotava a Praça, que tinha barracas famosas como a do queijo, a do coelhinho e as casinhas, a roleta, com os festeiros badalando sininho antes de correr a sorte. Houve muitas vezes barracas das colônias húngara, portuguesa, de entidades beneficentes, bingo, etc..
PALMEIRAS, FONTE LUMINOSA, CINEMA
Era o tempo da Praça com as saudosas palmeiras imperiais, a fonte luminosa… O Nosso Cinema tinha sessões especiais, com filmes famosos.
BAILES de GALA
O Clube Comercial, que era na esquina onde hoje é o Banco Santander, promovia bailes de gala, a rigor, com conjuntos ou orquestras de renome. Os homens de smoking e as mulheres de longo. Na sexta, o traje era esporte. No sábado, passeio. Mas o badalado, mais concorrido, era o de gala, a rigor.
CONCURSO de VITRINES, RIFA do CARRO
Havia concurso de vitrines, para ver quais lojas enfeitavam melhor as suas, com imagens da Padroeira, flores, papéis laminados, etc. E era muito badalada, super concorrida, a rifa do carro – muitas vezes um fusca zero km, com enorme expectativa para ver quem ganhou. Sorteavam também bicicletas, tevês, geladeiras e outros prêmios.
ABERTURA COM CORTEJO MOTORIZADO
Virou tradição também a abertura da festa, da novena, com um cortejo motorizado, saindo do quartel do 5º BIL até a Catedral, conduzindo o andor de Nossa Senhora da Piedade. Ainda integravam o cortejo as Polícias Rodoviária e Militar, com banda, sirenes, viaturas e motocicletas, devagar, passando pela rua Principal, praça, animando o início da festa.
BADALADÍSSIMA CORRIDA de BICICLETAS
À tarde, o povo se aglomerava nas calçadas, que tinham cordas isolando a gente das ruas, para ver a badalada corrida de bicicletas, quando ia à frente uma super motocicleta da Polícia Rodoviária, com sirene ligada, abrindo alas para o pelotão de ciclistas. Os patrulheiros Faustino e Felipe, por exemplo, ficaram famosos e admirados pilotando tais super motocicletas. O famoso ” Zé Vítor”, da então Mantiqueira, ganhava muitas vezes, mas vinham ciclistas de toda a região e até de outros estados. Desde os tempos do “seu” Raulino Cabral, Capitão Miguel Santiago, Cabo Pádua, etc.
PROVA PEDESTRE, GINCANAS
Havia também concorrida Prova Pedestre. E gincanas de carros com casais, correndo, parando e descendo para “morder a maçã” dentro do balde d´água, quebrar o pote dependurado com os olhos vendados, dentre tantas provas mais da gincana. Eram na Praça Principal ou da Catedral, no Hepacaré, etc.
SEM PARAR de PEDALAR
Na Praça da Catedral aconteceram, muitos anos, espécies de maratonas sobre bicicletas. Não podiam parar de pedalar e nem descer da bicicleta! Dezenas de concorrentes varavam noites e dias dando voltas na Praça da Catedral, resistindo, sem parar. O William Portugal venceu algumas vezes essa maratona ciclística.
TORNEIO da PADROEIRA… E “JOGÃO” no HEPACARÉ
No Comercial, era disputadíssimo, badalado, o Torneio de Futebol de Salão da Padroeira. O histórico time dos “Irmãos Ballerini” foi várias vezes campeão destes torneios. O Hepacaré, então com time consagrado, programava partida especial, contra time famoso, para o 15 de agosto.
JORNAIS e RÁDIO ESPECIAIS
Os jornais e as rádios de Lorena tinham edição e programação especiais, com mensagens festivas do comércio, indústria, Prefeitura, Câmara, entidades, de toda a comunidade saudando o dia da padroeira, 15 de agosto. E muitos artigos também eram especiais, contando a história e a tradição da festa.
MULTIDÃO CIRCULANDO, AMBULANTES
O dia inteiro tinha gente indo e vindo, na Praça, na rua Nossa Senhora da Piedade, no “Largo da Catedral”, com ambulantes vendendo algodão doce, queijadinhas, pipoca… aqueles periquitos que liam a sorte, bicavam os papeizinhos, ao som de musiquinha…
PARQUE, ALTO-FALANTES, BOLAS COLORIDAS
E o parque de diversões era, muitas vezes, montado na rua Major Oliveira Borges, começando na esquina da Praça Arnolfo Azevedo, onde ficava o Clube Comercial, hoje Banco Santander. O povo se animava com roda gigante, chapéu mexicano, dang, carrocel, tiro ao alvo, argolas, ganhando muito aquelas bolas plásticas enormes e coloridas. Uma das maiores alegrias da criançada era ganhar a bola da festa! O alto-falante do parque anunciava “oferecimentos” de músicas e recados de amor aos namorados, paqueras, casais…
TRENZINHO… RAINHA da FESTA
A criançada adorava andar no trenzinho, com vários vagões, puxado por um trator, passeando pela cidade. Em alguns anos havia eleição, com desfile das candidatas na passarela, da Rainha e das Princesas da Festa da Padroeira.
ESQUADRILHA da FUMAÇA… FANFARRAS
A famosa Esquadrilha da Fumaça, da FAB, abrilhantava as tardes de 15 de agosto, encantando a todos com suas acrobacias no céu, em espetáculos maravilhosos. Fanfarras de escolas de Lorena e de cidades vizinhas, como a famosa La Salle, de Aparecida, se apresentavam na Praça Arnolfo Azevedo. A Fanfarra do saudoso professor Ednardo Areco, também do São Joaquim, animava as festas de antigamente.
SHOW de FOGOS de ARTIFÍCIO
Fechando espetacularmente a noite de 15 de agosto, havia inesquecíveis shows de fogos de artifício, colorindo o céu, magnificamente, por longos minutos, prendendo a atenção de todo o povo. Eram maravilhosos, admiráveis, estes tradicionais shows de fogos de artifício… Fechavam como chave de ouro a Festa da Padroeira!
LEMBRANÇAS, MEMÓRIA… AINDA HÁ MUITO a ACRESCENTAR!
São reminiscências, lembranças, recordações, histórias dos nossos tempos de criança ou juventude. Como recordar é viver… e todos nós temos amor à terra onde nascemos, onde vivemos os tempos de criança e juventude, aqui ficam registros de alguns momentos, instantes, idílicos, lembranças de outros tempos, não muito distantes, desta nossa Lorena querida, bela e culta!
Tem muito a ser acrescentado, ainda. Este é um trabalho amador, de quem é apaixonado por Lorena! Uma “idiossincrasia” minha. Memórias! Memórias! Nada mais!
João Bosco Pereira de Oliveira, também conhecido como “Paçoca”, é jornalista e manteve por 40 anos o Jornal Guaypacaré, um grande marco e recorde na história da Imprensa de Lorena! 40 anos de trabalho patrocinado por anunciantes e assinantes, sem nunca ter sido mantido politicamente!
Em 1976, foi o vereador mais jovem e mais votado de Lorena, o único a recusar, por vontade própria, a “aposentadoria parlamentar”, por considerá-la imoral e injusta. Com 18 anos, foi recebido pelo presidente da República, pedindo “democracia” em pleno tempo em que não havia abertura política. Naquela época, também foi o mais jovem candidato a deputado estadual do Brasil.
Comendador 3 vezes, desde menino, trabalhou em outros jornais, antes de fundar o seu Guaypacaré. Foi jornalista responsável por inúmeros jornais de cidades vizinhas. Fundador e Presidente de Honra do Grupo Escoteiro Guaypacaré, que está prestes a comemorar 50 anos.
Teve programas nas rádios Cultura AM e Colúmbia FM. São 50 anos de jornalismo, boa imprensa, sem nenhum processo por calúnia, injúria ou difamação.
Também é membro fundador da Academia de Letras de Lorena e agora, passa a registrar a história da sua cidade de nascimento e de coração de acordo com suas detalhadas pesquisas.
Atenção: este trabalho não é de um historiador. É de um jornalista apaixonado por nossa cidade e que tem se dedicado a pesquisar, jornalisticamente, a história de nossa Lorena querida, […]
No ano passado, 2017, escrevi um artigo sobre os 15 de agosto de antigamente em Lorena. Não esperava tanta repercussão! Deu o maior ibope, tanto na internet quanto pessoalmente… Quanta […]
O primeiro Trem Em “Gens Lorenensis”, Antonio da Gama Rodrigues registra, às páginas 79 e 80: “A 7 de julho de 1877, chega a Lorena o primeiro trem-de-ferro, da Companhia Estrada […]
Como castigo por ter sido “a capital revolucionária”, sede da presidência e do comando da Revolução de 1842 – na qual os “liberais” perderam para os “conservadores” –, Lorena foi […]
“A Arnolfo Azevedo, Lorena deve os serviços de água e esgoto, a sede do Grupo Escolar Gabriel Prestes, a modernização da Praça Principal, o 53º Batalhão de Caçadores (hoje 5º […]
Um “Largo” com mato e animais Antes de ser a Praça Principal Arnolfo Azevedo, toda aquela área central chamava-se Largo Imperial. Era um campo abandonado, cheio de mato, tendo a […]
Por quase um século, de 1884 a 1973 (portanto, durante 89 anos), Lorena foi orgulhosamente conhecida como “Terra das Palmeiras Imperiais”, ostentando centenas de belíssimas e inesquecíveis espécies que embelezavam, […]