A distribuição normal é uma das funções usadas na estatística para analisar dados e tendências. Desenvolvida e descrita por Gauss – daí ser mais corretamente chamada de gaussiana – mostra a variação uniforme de valores ao redor de uma média. Essa e outras funções aplicadas a questões das ciências naturais é muito útil – química, física, biologia. Porém, quando tais ferramentas são propostas para explicar situações sociais, políticas, psicológicas, dentre várias outras, a distorção se faz presente. Cuidados devem ser tomados para se tirar o proveito do instrumento, sem promover ilusões.
Por muito tempo, comportamentos eram classificados de normais porque se entendia como padrão, como referência, aquilo que a própria pessoa ou grupo social toma para si como o correto, o certo. A avaliação nesse caso não é como a da estatística, que pressupõe populações infinitas de dados e informações para se chegar às curvas de distribuição de valores. O valor social é distinto do valor matemático.
Indo a São Paulo nesta semana, os avisos na estrada indicavam que a condição de trânsito era normal e me perguntei o que isso significava. Seguindo a estatística, normal é o que mais se repete dentro daquele conjunto de estudo. Trânsito na capital, para caipiras como eu, é sempre congestionado, parado, estressante. Isso deve, portanto, ser o normal. Mas normal pode significar que está tudo fluindo, sem maiores perdas de tempo, o que – paradoxalmente – seria anormal.
Vivemos um momento de forte retrocesso institucional em nosso país e ondas de comportamento fascista em todo o mundo, evidenciando que o conceito do que é normal esconde forte preconceito e o incômodo de aceitar o que é diferente. Nossa existência se deu por uma singularidade do caos. Sem a desordem primordial, vida não existiria, pois.







